Uma reportagem fantasticamente direcionada e viciada

Por Gildean Farias 

Há exatamente uma semana, a principal revista eletrônica da TV aberta exibiu uma reportagem/denúncia, que da ótica dos espectadores menos atentos ou “leigos” em relação aos meandros da construção da notícia em empresas de imprensa, foi uma grande produção do Jornalismo Investigativo. Já para os amantes de espetáculos noticiosos, foi um prato cheio para comentários e especulações sensacionalistas e apocalípticas.

Porém, uma análise mais criteriosa e sob a ótica jornalística dos detalhes que envolveram o processo de construção da reportagem sobre o “grande esquema de corrupção” na Educação de São Bernardo, mostra que a reportagem foi um tanto ‘fantasticamente’ viciada, ou direcionada.

Vamos aos fatos! Fato 1: a reportagem começa apresentando uma mulher que estaria pagando aulas de alfabetização, mas sem identificar de qual município era – uma vez que a reportagem cita três municípios.

Fato 2: o repórter entrevista a escrivã do cartório civil de São Bernardo, e mostra um livro de registro de óbitos onde, segundo ele, está o nome de várias pessoas que estariam matriculadas na modalidade EJAI. O repórter, no entanto, não cita o nome de nenhum dos tais “alunos mortos”. Porquê?!?

Fato 3: o único morto mostrado na reportagem é o pai do então secretário de Comunicação e Cultura (que no dia seguinte pediu demissão). Mesmo assim, uma rápida pesquisa no portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) do Ministério da Educação, é possível verificar que o tal “aluno morto” não está matriculado na modalidade EJAI de São Bernardo, exatamente por ser uma pessoa falecida.

Fato 4: na reportagem foi ao ar uma fala do prefeito João Igor, de menos de 10 segundos, quando a ligação por telefone do repórter com o gestor municipal durou ao todo quase 15 minutos. Porque as outras respostas do prefeito não foram ao ar?! Respostas-chaves para explicar as supostas irregularidades apresentadas pela reportagem.

Analisados os fatos, podemos inferir que a reportagem “bombástica” sobre a “fraude na Educação de São Bernardo”, além de ser direcionada, está cheia de vícios e fatos, no mínimo, suspeitos. Afinal, o Jornalismo e o jornalista podem até está do lado do esclarecimento e da verdade dos fatos, mas, infelizmente, eles estão inseridos numa estrutura com interesses financeiros e políticos, que ditam verdadeiramente, o rumo do conteúdo das reportagens.

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