Defensoria Pública usa literatura para sensibilizar público sobre questão LGBTQ+

Há mais de cem anos, o escritor irlandês Oscar Wilde foi processado e preso em função de sua homossexualidade. A sua frase “o amor que não diz seu nome” se tornou célebre e continua sendo citada como referência a clandestinidade de orientações sexuais fora da heteronormatividade. Mas as coisas mudaram? As relações homoafetivas, lesboafetivas, biafetivas e outras, puderam dizer seu nome e sair do armário?

São essas e outras questões que a Defensoria Pública do Estado do Maranhão, através do projeto “Direito e Literatura: provocações LGBTQ+” se propõe a discutir em eventos que se realizarão virtualmente em função da pandemia de coronavirus.

A defensora pública de Defesa da Mulher e da População LGBT Lindevania Martins, também escritora, poeta e contista com quatro livros publicados, idealizadora do projeto ”Direito e Literatura: Provocações LGBTQ+”, explica que a proposta é receber convidadas e convidados para conversar sobre os entrecruzamentos entre direito, literatura e a questão LGBTQ.

Defensora pública de Defesa da Mulher e da População LGBT Lindevania Martins

“É inegável que avançamos, mas o Brasil ainda apresenta índices alarmantes de violência contra pessoas LGBT simplesmente por serem que são. Os encontros do projeto, que serão temperados com a leitura de poemas e textos em prosa, também trarão informações jurídicas relevante sobre direitos LGBTQs. Queremos trazer escritores, mas também outros profissionais do livros para pensamos sobre o que a arte e a literatura podem no mundo e de que modo o potencial humanizador da literatura pode se voltar contra as opressões. Acreditamos que as narrativas e a poesia LGBT promovem uma cultura de respeito, atuando na estrutura da sociedade, podendo sensibilizar e conscientizar um público mais amplo sobre a necessidade de respeitar a diversidade e a diferença”.

O primeiro convidado do Projeto é o maranhense Franck Santos. Poeta, contista e romancista com uma longa estrada, Franck possui seis livros publicados e lançou neste ano o romance “Os Blues Que Não Dançamos”, pela Editora Moinhos. Conta que já escrevia poemas quando, através da leitura de um outro escritor, sentiu-se autorizado a falar sobre homoafetividade em seus livros: “Foi uma libertação! Quando li Caio Fernando Abreu, fiquei em choque. Percebi que também podia escrever sobre os afetos e desafetos direcionados a alguém do mesmo sexo. Ele me influenciou muito nesse sentido e após uma oficina de escrita criativa com o Caio em São Luís , minha forma de escrever mudou totalmente. Se ampliou para incluir experiências reais ou ficcionais não apenas entre homens e mulheres, mas também entre pessoas do mesmo sexo, seja usando a poesia ou a prosa”.

Abaixo, trecho de “Cena 8”, poema de Franck Santos publicado em “Fotogramas”, no qual ele apresenta um olhar sobre o cotidiano, a existência humana e as contradições dos encontros amorosos:

“Eu queria diurno, ele noturno. Ele queria manhã, eu tarde. Eu queria café, ele queria chá. Ele queria inverno, eu outono. Eu queria um abraço, ele um beijo. Ele queria mel, eu agridoce. Eu queria blues, ele rock. Ele queria gim, eu vinho. Eu queria romance, ele ação. Ele queria montanha, eu praia. Eu queria inteiro, ele metade. Ele queria nada, eu tudo”.

O projeto “Direito e Literatura: provocações LGBTQ+” prevê edições bimestrais de lives durante um ano com publicação ao final de um e-book que sistematizará os encontros, trazendo artigos de juristas, escritores e ativistas.

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